O grande diretor Martin Scorcese fez documentário sobre
a vida do músico mais espiritual dos Beatles
George Harrison, desde os seus 17 anos, foi objeto de uma adoração e fascinação sem fim. Isto aconteceu desde que ele explodiu na consciência popular como um dos membros da banda mais amada de todos os tempos, os Beatles. Com os Beatles ele viajou por todos os lugares, encontrou-se com todo mundo e conquistou níveis de fama e fortuna apenas sonhados pelo resto de nós, simples mortais.
Aos 22 anos, ele percebeu que apenas sucesso material só não era suficiente: "Ainda bem jovens, nós tínhamos muitas coisas materiais e nós aprendemos que isto não era suficiente, nós ainda precisávamos de alguma coisa mais". Através da sua amizade com o músico Ravi Shankar e suas viagens pela Índia, George mergulhou de cabeça na música e filosofia indiana. A meditação e a prática espiritual passaram então a ser, para ele, atividades centrais no decorrer do resto de sua vida.

O premiado diretor Martin Scorcese, usando filmagens raras e nunca vistas mostrando George Harrison desde criança, passando pelo seus anos com os Beatles, mostrando seus altos e baixos na sua carreira solo e também suas alegrias e dores na sua vida privada mostra a sua jornada desde seu nascimento em 1943 até seu falecimento em 2001.
"Quanto mais eu me aprofundava na sua vida e na sua carreira mais eu era atraído pela sua personalidade, de como ele suportava os altos e baixos da sua existência. Acho que, no final, eventualmente ele passou a entender a natureza passageira do sucesso e do fracasso." Comenta filosoficamente diretor Martin Scorcese.
Muito embora o documentário naturalmente tenha o seu lado épico na verdade ele é bem pessoal e, mostra Ringo Starr, Eric Clapton, Paul McCartney, Yoko Ono, Olivia (sua esposa) e Dhani Harrison (seu filho), entre muitos outros entrevistados, comentando livremente sobre suas muitas qualidades e contradições, assim como, relatam como foi a vida que compartilharam com o querido George Harrison. Sua esposa Olivia Harrison comenta: "Ele tinha o Karma para trabalhar e, ele não queria voltar de novo para ser mau, ele foi bom e mau, amou e odiou, tudo de uma vez só."
"Ele foi um inovador. George, para mim, foi pegando certos elementos do Rhythm and Blues, Rock e Rockabilly e criando algo único" Comenta Eric Claptom. Durante um tempo de profunda experimentação, o trabalho de George como o guitarrista principal dos Beatles realmente destacou-se do resto. Como compositor das músicas Within You, Without You, While My Guitar Gently Weeps, Something, Here Comes the Sun, entre muitas outras, ele misturou espiritualidade e ritmos da Índia com a música popular.
George era uma pessoa que não tinha medo de tomar riscos, era sempre contra dogmas e convenções. Seu álbum solo chamado All Things Must Pass foi lançado corajosamente no formato triplo, contou com o sucesso My Sweet Lord e acabou ganhando Disco de Platina. Ele organizou o histórico Concerto para Bangladesh, o primeiro concerto beneficente para tentar ajudar resolver uma crise mundial. Nos anos 80, ele fundou a empresa Handmade Films, um dos fatores principais para a revitalização da industria cinematográfica inglesa. George passou 30 anos restaurando um dos grandes jardins da Inglaterra, o Friar Park. Em todos os aspectos da sua vida profissional e espiritual, até nas suas horas finais George caminhou o caminho traçado por ele mesmo.
Como seu amigo, John Lennon uma vez disse: "George, ele mesmo, não é um mistério. Mas, o mistério lá dentro dele é que é imenso. Observar ele revelando este mistério pouco a pouco é o que é o mais interessante."
O diretor Martin Scorcese comenta
Assim como milhares e milhares de pessoas, eu primeiro conheci George Harrison através da sua música, que foi a trilha sonora do nosso mundo. Foi com a música dos Beatles, com aquela guitarra lírica, aqueles solos, com aquelas músicas inesquecíveis dele como por exemplo I Me Mine ou If I Needed Someone. Tinha também as imagens nas revistas, nas capas dos álbuns, as aparições na TV, etc. Depois, veio o mundo pós Beatles, quando a música do George pareceu crescer e desabrochar como uma flor. Eu nunca me esquecerei a primeira vez que ouvi All Things Must Pass, aquela sensação transcendente de estar ouvindo aquela música gloriosa pela primeira vez. Foi como se eu estivesse entrando numa catedral. George estava fazendo música para despertar a espiritualidade nas pessoas, nós todos ouvimos e sentimos isto e, acho que é justamente por isto que ele ocupa um lugar tão especial nas nossas vidas.
Então, quando ofereceram-me a oportunidade de fazer este filme, aceitei imediatamente. Foi um grande prazer passar um tempo com Olivia a esposa do George assim como, entrevistar muitos dos seus amigos mais íntimos, assistir e selecionar todos os filmes, alguns nunca vistos antes, além é claro, de ouvir toda aquela música magnífica, tudo isto foi uma experiência que sempre guardarei como se fosse um tesouro.
George Harrison - Uma curta biografia
Durante uma carreira que durou 4 décadas, George Harrison ganhou a reputação de ser um dos mais talentosos e influenciais artista do rock. Ele foi guitarrista um inovador e grande compositor, tendo sido responsável por algumas das músicas mais populares dos Beatles tais como, Taxman, While My Guitar Gently Weeps, Here Comes the Sun e Something. Mas, estas contribuições foram só o começo do impacto de George Harrison na música popular pelo mundo afora. Seu uso da citara em músicas como Norwegian Wood, Love You To e Within You, Without Yourevolucionou o rock nos anos 60. A sua jornada espiritual aliada a sua amizade duradoura com Ravi Shankar, um músico de citara virtuoso, ajudou trazer a filosofia, música e religião oriente para o ocidente.
Depois da dissolução dos Beatles em 1970, Harrison embarcou na sua carreira solo tomando decisões corajosas para a época. Como já foi dito acima, seu primeiro álbum foi um álbum triplo chamado All Things Must Pass cujo primeiro compacto chamado My Sweet Lord foi parar diretamente no primeiro lugar das paradas. O álbum acabou vendendo, pasmem, 7 milhões de cópias! Em 1971, debaixo do comando de Ravi Shankar, Harrison organizou o Concerto para Bangladesh, um concerto beneficente para ajuda humanitária à uma nação que tinha sido devastada por desastres naturais e guerra civil.
Concerto para Bangladesh
Este concerto, o primeiro show de rock beneficente onde muitas estrelas do rock se apresentaram, mostrou Harrison como líder no palco com contribuições de seus amigos Shankar, Eric Clapton, Billy Preston, Bob Dylan e Ringo Starr. Em 1974, Harrison formou seu próprio selo Dark Horse Records e, juntamente com Shankar e Preston, fizeram uma turnê de 30 dias pelos Estados Unidos. Harrison continuou lançando álbuns solos de sucesso e também, produzindo outros artistas por todos anos 70.
Em 78, Harrison co-fundou HandMade Films para financiar o filme do Monty Python chamado Life of Brian. Ele continuou amigo dos "Pythons" pela vida inteira. A produtora HandMade viria a produzir filmes importantes como Withnail and I, Mona Lisa e Time Bandits, ajudando a reativar o filme independente na industria do cinema inglês. Em 2002, sua ajuda ao cinema inglês foi reconhecida com George Harrison recebendo o prêmio póstumo de Lifetime Achievement do British Independent Film.
Em 1987, Harrison voltou ao estrelato com o álbum chamado Cloud Nine. Este álbum foi produzido por Jeff Lynne, o antigo líder da banda Electric Light Orchestra ( ELO) e contou com o sucesso Got My Mind Set On You. Este álbum, pelas suas vendas astronômicas, também acabou recebendo Disco de Platina. Esta colaboração com Jeff Lynne inspirou Harrison à formar a banda Traveling Wilburys com Jeff Lynne seus outros amigos, não menos lendários, Bob Dylan, Tom Petty, e Roy Orbison. A Banda Traveling Wilburys gravou dois álbuns de sucesso e onde destacaram-se as músicas Handle With Care e End of the Line.
Em 1991 Harrison voltou rapidamente para a estrada, fazendo uma turnê pelo Japão com Eric Clapton e lançando o álbum Live In Japan em 1992.
Fora seu trabalho com música e filme, George Harrison gostava de passar seu tempo com sua esposa Olivia e seu filho Dhani. Depois de uma vida vivida no meio das artes e cheia de experiências espirituais ele faleceu em 2001.
Nota do Barbieri: George Harrison quase que terminou como John Lennon quando alguém invadiu sua casa e o esfaqueou. Apenas menciono este fato para que os puristas de plantão não venham lembrar este fato lamentável e que, claramente é totalmente ofuscado pela vida exemplar e pacífica deste grande artista.
Antonio Celso Barbieri
O lançamento do filme Living In The Material World pela Motherlode Media on Vimeo.

Marco Antonio Mallagoli e George Harrison
Barbieri entrevista Marco Antonio Mallagoli
(Revolution Fan Club)
sobre seu encontro com George Harrison
Barbieri: Quando, onde e como foi que você conseguiu esta façanha de conversar com George Harisson?
Mallagoli: Conheci George pessoalmente em fevereiro de 1979 quando ele veio para o Brasil para assistir O Grande Premio de Formula 1. Na época, sempre no saguão do Hilton Hotel, falei com ele 8 vezes e peguei vários autógrafos.
Depois disso, passei uma tarde com ele em Los Angeles, na casa da Annie Lennox, onde ele estava gravando o disco da banda Traveling Wilburys (apenas os demos com Roy Orbison, Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne). Foi no dia 25 de maio de 1987. Recordo-me bem desta data porque foi o dia do aniversário da minha esposa Méa.
Tudo aconteceu como resultado de uma promoção que a WEA Brasil queria fazer. Dei a idéia de passar uma tarde com ele na casa dele. A idéia seria eu ir com mais alguém.
Entretanto a WEA Brasil junto a radio Jovem Pan, tentaram me passar a perna e quiseram fazer a promoção sem a minha participação. No final, deu tudo errado e eles vieram correndo atrás de mim, dai eu fui. (maiores detalhes e toda a historia estará em meu futuro livro).
Barbieri: Quanto tempo você ficou com ele?
Mallagoli: Nesse dia uma tarde inteira, acho que umas 6 ou 7 horas no mínimo.
Barbieri: Você teve a oportunidade de ficar sozinho com ele ou tinha outras pessoas com você.
Mallagoli: O vice presidente da Warner do USA levou-me ate lá e depois foi me buscar. Ficamos só eu e ele. E quando ele foi me buscar ele levou a secretaria dele que tirou algumas fotos minhas juntamente com o George.
O incrível foi que, no hotel em que eu estava hospedado, neste dia, acabei jantando com o, não menos lendário, B.B. King... foi muita coisa para um dia só!
Barbieri: Você teve alguma orientação antes de falar com ele, você foi instruído no sentido do que poderia perguntar ou não?
Mallagoli: Sim, não poderia perguntar nada sobre os Beatles, nem sobre a morte de John Lennon. Só poderia perguntar sobre o disco dele o "Cloud Nine" ou sobre a carreira solo dele. No final, mesmo sem eu perguntar, ele acabou me contando historias dos Beatles. George Harrison foi muito aberto e simpático.
Barbieri: Você sentiu alguma coisa mística na presença dele ou ele mostrou-se um ser humano absolutamente normal?
Mallagoli: Sim ele tinha uma energia pessoal muito forte, você repara e sente quando está na frente de pessoas especiais e iluminadas. Na verdade, este tipo de energia eu senti quando encontrei cada um dos Beatles separadamente, mas a dele, tenho que admitir que foi algo mais espiritual, ainda mais, como sou espírita senti isso bem forte.
Barbieri: Ele falou alguma coisa da Índia e espiritualismo?
Mallagoli: Não, só sobre musica. George tocou guitarra e cantou pra mim, me levou a um estúdio nos fundos da casa onde ele tocou alguns "demos" da banda Traveling Wilburys, mas sem dizer quem era e o que era, apenas para saber se eu gostava. Lógico que amei. Ele também rodou o vídeo da musica "This is Love" que faz parte do disco "Cloud Nine" e que eu não conhecia ainda. Foram momentos surreais, pois eu olhava aquela imensa TV e via ele no clipe e ele sentado ali do meu lado. Toda vez que vejo esse clipe ate hoje eu sinto isto de novo.
O engraçado é que Ravi Shankar ligou e eles conversaram brevemente. No meio da conversa ele disse que estava com um amigo e falou meu nome. Então ele virou para mim e disse: "O Ravi esta mandando um abraço a você". E eu como se fosse velho e intimo deles, disse: "Mande outro para ele". Durante o telefonema, Ele combinou de ir a noite no show que o Ravi ia fazer em Los Angeles e desligou. Esse foi o único momento que ele falou de algo ligado a Índia.
Barbieri: Ele comentou algo sobre a sua relação com os outros 3 Beatles?
Mallagoli: Sim, ele contou historias sobre eles em Hamburgo, algumas coisas de shows e alguns detalhes de discussões sobre arranjo de musicas, das gravações dos filmes, mas tudo no maior bom humor.
Ele falou do John Lennon como uma pessoa muito especial e que tudo que eles viveram parecia ter sido um belo sonho, mas que ele não gostaria de repetir tudo aquilo.
Quando entrei na casa, havia pelo menos umas 20 guitarras Gretsch espalhadas pelo chão.... até então, só havia visto uma na casa do Marcus Rampazzo (guitarrista da banda Beatles 4 Ever). Quando entramos na casa, George Harrison não havia descido ainda e eu peguei uma das guitarras na mão. Isto aconteceu bem na hora que George chegou. Preparei-me para levar uma bronca, mas ele nem ligou, só perguntou se eu gostava de guitarras.
Depois de um tempo que estávamos juntos, eu toquei pra ele uma fita K7 com gravações de solos de guitarra slide que ele havia feito em diversas músicas, mas agora gravados pelo Marcus Rampazzo. Ele sentou-se em uma poltrona, pegou uma guitarra e ficou escutando e comentando.
No inicio, ele me perguntou se não era de nenhum disco pirata dele, e eu expliquei a ele sobre o Rampazzo e ele ouviu a fita com bastante atenção e no final fez um elogio ao Rampazzo que eu gravei. Na musica "Isn´t it a Pity" ele não lembrava o tom e quando eu disse que era em Sol, ele me perguntou se eu queria pegar a guitarra e tocar, mas bobeei e disse que não, não tive coragem de tocar na frente dele.
Ele havia tocado no "Princes Trust" recentemente e no vídeo que eu vi, ele usava uma guitarra Gibson Les Paul, semelhante a usada na gravação da música "While My Guitar Gently Weeps" usada pelo Eric Clapton que só tocou nessa música com os Beatles, em mais nenhuma outra e que, depois da gravação deu a guitarra para o George, e quando perguntei se era a mesma guitarra, ele me disse que ele havia usado uma Fender no show.... Não quis discutir com ele, lógico....he he he... pareceu que a memória recente dele não era muito boa.
Barbieri: Você tirou alguma foto junto com ele?
Mallagoli: Sim várias, antes de ir embora. Tirei algumas fotos dele e ele tirou uma foto minha segurando uma guitarra Gretsch dele. Foi a glória para mim.
Barbieri: Esta foi a única vez que você falou com ele?
Mallagoli: Não eu já havia conversado com ele em São Paulo quando ele veio para ver a corrida de Formula 1, mas dessa vez foi mais sossegado, pois não tinha gritaria, nem correria e estávamos só nos dois.
Barbieri: Fora a evidente emoção de estar do lado de uma lenda viva, qual foram as suas impressões deste encontro? Que memórias (boas e ruins) você guarda até hoje do George?
Mallagoli: Ele foi muito simpático e logo que me viu, falou: "Eu te conheço". Dai me apresentei e ele lembrou-se de mim. Eu queria gravar tudo que falávamos mas, ele me disse: "Você não precisa fazer isso pois nós somos amigos. Você gostaria que eu fosse te visitar e ficasse gravando e fotografando tudo que nós fizéssemos? Pois se sinta a vontade aqui, como um amigo meu. E foi o que aconteceu, ele me deixou à vontade para falar, rir, perguntar e quando eu perguntei: "E quando eu quiser falar com você de novo?" Ele me respondeu:" Vou te dar meus contatos, mas o mais fácil é você ligar para a Warner e eles te dizem onde estou, vou deixar seu nome na minha lista de amigos".
E dai ele me passou até o telefone da casa dele e outros, mas nunca tive coragem de ligar, só o fiz quando ele estava terminal com câncer, ha dez anos atrás, mas ninguém atendeu. Então, como ele havia me instruído, liguei pra Warner, e a pessoa que conversou comigo, foi super simpática e me passou um outro número e me pediu para ligar dali a uns 40 minutos. Quando liguei falei com Olivia, sua esposa, que, agradeceu minha ligação mas, disse que George não tinha condições de falar comigo, mas que ele lembrava de mim e que era para eu e os fãs dele rezarem muito por ele pois ele não iria muito longe. No dia seguinte tive a noticia da passagem dele.
Por incrível que pareça ate hoje os Beatles nunca me decepcionaram, todos foram muito atenciosos como pessoas, foram sempre muito simples e muito bacanas comigo. Não tenho de nenhum deles nenhuma memória ruim.O grande diretor Martin Scorcese fez documentário sobre
a vida do músico mais espiritual dos Beatles
George Harrison, desde os seus 17 anos, foi objeto de uma adoração e fascinação sem fim. Isto aconteceu desde que ele explodiu na consciência popular como um dos membros da banda mais amada de todos os tempos, os Beatles. Com os Beatles ele viajou por todos os lugares, encontrou-se com todo mundo e conquistou níveis de fama e fortuna apenas sonhados pelo resto de nós, simples mortais.
Aos 22 anos, ele percebeu que apenas sucesso material só não era suficiente: "Ainda bem jovens, nós tínhamos muitas coisas materiais e nós aprendemos que isto não era suficiente, nós ainda precisávamos de alguma coisa mais". Através da sua amizade com o músico Ravi Shankar e suas viagens pela Índia, George mergulhou de cabeça na música e filosofia indiana. A meditação e a prática espiritual passaram então a ser, para ele, atividades centrais no decorrer do resto de sua vida.

O premiado diretor Martin Scorcese, usando filmagens raras e nunca vistas mostrando George Harrison desde criança, passando pelo seus anos com os Beatles, mostrando seus altos e baixos na sua carreira solo e também suas alegrias e dores na sua vida privada mostra a sua jornada desde seu nascimento em 1943 até seu falecimento em 2001.
"Quanto mais eu me aprofundava na sua vida e na sua carreira mais eu era atraído pela sua personalidade, de como ele suportava os altos e baixos da sua existência. Acho que, no final, eventualmente ele passou a entender a natureza passageira do sucesso e do fracasso." Comenta filosoficamente diretor Martin Scorcese.
Muito embora o documentário naturalmente tenha o seu lado épico na verdade ele é bem pessoal e, mostra Ringo Starr, Eric Clapton, Paul McCartney, Yoko Ono, Olivia (sua esposa) e Dhani Harrison (seu filho), entre muitos outros entrevistados, comentando livremente sobre suas muitas qualidades e contradições, assim como, relatam como foi a vida que compartilharam com o querido George Harrison. Sua esposa Olivia Harrison comenta: "Ele tinha o Karma para trabalhar e, ele não queria voltar de novo para ser mau, ele foi bom e mau, amou e odiou, tudo de uma vez só."
"Ele foi um inovador. George, para mim, foi pegando certos elementos do Rhythm and Blues, Rock e Rockabilly e criando algo único" Comenta Eric Claptom. Durante um tempo de profunda experimentação, o trabalho de George como o guitarrista principal dos Beatles realmente destacou-se do resto. Como compositor das músicas Within You, Without You, While My Guitar Gently Weeps, Something, Here Comes the Sun, entre muitas outras, ele misturou espiritualidade e ritmos da Índia com a música popular.
George era uma pessoa que não tinha medo de tomar riscos, era sempre contra dogmas e convenções. Seu álbum solo chamado All Things Must Pass foi lançado corajosamente no formato triplo, contou com o sucesso My Sweet Lord e acabou ganhando Disco de Platina. Ele organizou o histórico Concerto para Bangladesh, o primeiro concerto beneficente para tentar ajudar resolver uma crise mundial. Nos anos 80, ele fundou a empresa Handmade Films, um dos fatores principais para a revitalização da industria cinematográfica inglesa. George passou 30 anos restaurando um dos grandes jardins da Inglaterra, o Friar Park. Em todos os aspectos da sua vida profissional e espiritual, até nas suas horas finais George caminhou o caminho traçado por ele mesmo.
Como seu amigo, John Lennon uma vez disse: "George, ele mesmo, não é um mistério. Mas, o mistério lá dentro dele é que é imenso. Observar ele revelando este mistério pouco a pouco é o que é o mais interessante."
O diretor Martin Scorcese comenta
Assim como milhares e milhares de pessoas, eu primeiro conheci George Harrison através da sua música, que foi a trilha sonora do nosso mundo. Foi com a música dos Beatles, com aquela guitarra lírica, aqueles solos, com aquelas músicas inesquecíveis dele como por exemplo I Me Mine ou If I Needed Someone. Tinha também as imagens nas revistas, nas capas dos álbuns, as aparições na TV, etc. Depois, veio o mundo pós Beatles, quando a música do George pareceu crescer e desabrochar como uma flor. Eu nunca me esquecerei a primeira vez que ouvi All Things Must Pass, aquela sensação transcendente de estar ouvindo aquela música gloriosa pela primeira vez. Foi como se eu estivesse entrando numa catedral. George estava fazendo música para despertar a espiritualidade nas pessoas, nós todos ouvimos e sentimos isto e, acho que é justamente por isto que ele ocupa um lugar tão especial nas nossas vidas.
Então, quando ofereceram-me a oportunidade de fazer este filme, aceitei imediatamente. Foi um grande prazer passar um tempo com Olivia a esposa do George assim como, entrevistar muitos dos seus amigos mais íntimos, assistir e selecionar todos os filmes, alguns nunca vistos antes, além é claro, de ouvir toda aquela música magnífica, tudo isto foi uma experiência que sempre guardarei como se fosse um tesouro.
George Harrison - Uma curta biografia
Durante uma carreira que durou 4 décadas, George Harrison ganhou a reputação de ser um dos mais talentosos e influenciais artista do rock. Ele foi guitarrista um inovador e grande compositor, tendo sido responsável por algumas das músicas mais populares dos Beatles tais como, Taxman, While My Guitar Gently Weeps, Here Comes the Sun e Something. Mas, estas contribuições foram só o começo do impacto de George Harrison na música popular pelo mundo afora. Seu uso da citara em músicas como Norwegian Wood, Love You To e Within You, Without Yourevolucionou o rock nos anos 60. A sua jornada espiritual aliada a sua amizade duradoura com Ravi Shankar, um músico de citara virtuoso, ajudou trazer a filosofia, música e religião oriente para o ocidente.
Depois da dissolução dos Beatles em 1970, Harrison embarcou na sua carreira solo tomando decisões corajosas para a época. Como já foi dito acima, seu primeiro álbum foi um álbum triplo chamado All Things Must Pass cujo primeiro compacto chamado My Sweet Lord foi parar diretamente no primeiro lugar das paradas. O álbum acabou vendendo, pasmem, 7 milhões de cópias! Em 1971, debaixo do comando de Ravi Shankar, Harrison organizou o Concerto para Bangladesh, um concerto beneficente para ajuda humanitária à uma nação que tinha sido devastada por desastres naturais e guerra civil.
Concerto para Bangladesh
Este concerto, o primeiro show de rock beneficente onde muitas estrelas do rock se apresentaram, mostrou Harrison como líder no palco com contribuições de seus amigos Shankar, Eric Clapton, Billy Preston, Bob Dylan e Ringo Starr. Em 1974, Harrison formou seu próprio selo Dark Horse Records e, juntamente com Shankar e Preston, fizeram uma turnê de 30 dias pelos Estados Unidos. Harrison continuou lançando álbuns solos de sucesso e também, produzindo outros artistas por todos anos 70.
Em 78, Harrison co-fundou HandMade Films para financiar o filme do Monty Python chamado Life of Brian. Ele continuou amigo dos "Pythons" pela vida inteira. A produtora HandMade viria a produzir filmes importantes como Withnail and I, Mona Lisa e Time Bandits, ajudando a reativar o filme independente na industria do cinema inglês. Em 2002, sua ajuda ao cinema inglês foi reconhecida com George Harrison recebendo o prêmio póstumo de Lifetime Achievement do British Independent Film.
Em 1987, Harrison voltou ao estrelato com o álbum chamado Cloud Nine. Este álbum foi produzido por Jeff Lynne, o antigo líder da banda Electric Light Orchestra ( ELO) e contou com o sucesso Got My Mind Set On You. Este álbum, pelas suas vendas astronômicas, também acabou recebendo Disco de Platina. Esta colaboração com Jeff Lynne inspirou Harrison à formar a banda Traveling Wilburys com Jeff Lynne seus outros amigos, não menos lendários, Bob Dylan, Tom Petty, e Roy Orbison. A Banda Traveling Wilburys gravou dois álbuns de sucesso e onde destacaram-se as músicas Handle With Care e End of the Line.
Em 1991 Harrison voltou rapidamente para a estrada, fazendo uma turnê pelo Japão com Eric Clapton e lançando o álbum Live In Japan em 1992.
Fora seu trabalho com música e filme, George Harrison gostava de passar seu tempo com sua esposa Olivia e seu filho Dhani. Depois de uma vida vivida no meio das artes e cheia de experiências espirituais ele faleceu em 2001.
Nota do Barbieri: George Harrison quase que terminou como John Lennon quando alguém invadiu sua casa e o esfaqueou. Apenas menciono este fato para que os puristas de plantão não venham lembrar este fato lamentável e que, claramente é totalmente ofuscado pela vida exemplar e pacífica deste grande artista.
Antonio Celso Barbieri
O lançamento do filme Living In The Material World pela Motherlode Media on Vimeo.

Marco Antonio Mallagoli e George Harrison
Barbieri entrevista Marco Antonio Mallagoli
(Revolution Fan Club)
sobre seu encontro com George Harrison
Barbieri: Quando, onde e como foi que você conseguiu esta façanha de conversar com George Harisson?
Mallagoli: Conheci George pessoalmente em fevereiro de 1979 quando ele veio para o Brasil para assistir O Grande Premio de Formula 1. Na época, sempre no saguão do Hilton Hotel, falei com ele 8 vezes e peguei vários autógrafos.
Depois disso, passei uma tarde com ele em Los Angeles, na casa da Annie Lennox, onde ele estava gravando o disco da banda Traveling Wilburys (apenas os demos com Roy Orbison, Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne). Foi no dia 25 de maio de 1987. Recordo-me bem desta data porque foi o dia do aniversário da minha esposa Méa.
Tudo aconteceu como resultado de uma promoção que a WEA Brasil queria fazer. Dei a idéia de passar uma tarde com ele na casa dele. A idéia seria eu ir com mais alguém.
Entretanto a WEA Brasil junto a radio Jovem Pan, tentaram me passar a perna e quiseram fazer a promoção sem a minha participação. No final, deu tudo errado e eles vieram correndo atrás de mim, dai eu fui. (maiores detalhes e toda a historia estará em meu futuro livro).
Barbieri: Quanto tempo você ficou com ele?
Mallagoli: Nesse dia uma tarde inteira, acho que umas 6 ou 7 horas no mínimo.
Barbieri: Você teve a oportunidade de ficar sozinho com ele ou tinha outras pessoas com você.
Mallagoli: O vice presidente da Warner do USA levou-me ate lá e depois foi me buscar. Ficamos só eu e ele. E quando ele foi me buscar ele levou a secretaria dele que tirou algumas fotos minhas juntamente com o George.
O incrível foi que, no hotel em que eu estava hospedado, neste dia, acabei jantando com o, não menos lendário, B.B. King... foi muita coisa para um dia só!
Barbieri: Você teve alguma orientação antes de falar com ele, você foi instruído no sentido do que poderia perguntar ou não?
Mallagoli: Sim, não poderia perguntar nada sobre os Beatles, nem sobre a morte de John Lennon. Só poderia perguntar sobre o disco dele o "Cloud Nine" ou sobre a carreira solo dele. No final, mesmo sem eu perguntar, ele acabou me contando historias dos Beatles. George Harrison foi muito aberto e simpático.
Barbieri: Você sentiu alguma coisa mística na presença dele ou ele mostrou-se um ser humano absolutamente normal?
Mallagoli: Sim ele tinha uma energia pessoal muito forte, você repara e sente quando está na frente de pessoas especiais e iluminadas. Na verdade, este tipo de energia eu senti quando encontrei cada um dos Beatles separadamente, mas a dele, tenho que admitir que foi algo mais espiritual, ainda mais, como sou espírita senti isso bem forte.
Barbieri: Ele falou alguma coisa da Índia e espiritualismo?
Mallagoli: Não, só sobre musica. George tocou guitarra e cantou pra mim, me levou a um estúdio nos fundos da casa onde ele tocou alguns "demos" da banda Traveling Wilburys, mas sem dizer quem era e o que era, apenas para saber se eu gostava. Lógico que amei. Ele também rodou o vídeo da musica "This is Love" que faz parte do disco "Cloud Nine" e que eu não conhecia ainda. Foram momentos surreais, pois eu olhava aquela imensa TV e via ele no clipe e ele sentado ali do meu lado. Toda vez que vejo esse clipe ate hoje eu sinto isto de novo.
O engraçado é que Ravi Shankar ligou e eles conversaram brevemente. No meio da conversa ele disse que estava com um amigo e falou meu nome. Então ele virou para mim e disse: "O Ravi esta mandando um abraço a você". E eu como se fosse velho e intimo deles, disse: "Mande outro para ele". Durante o telefonema, Ele combinou de ir a noite no show que o Ravi ia fazer em Los Angeles e desligou. Esse foi o único momento que ele falou de algo ligado a Índia.
Barbieri: Ele comentou algo sobre a sua relação com os outros 3 Beatles?
Mallagoli: Sim, ele contou historias sobre eles em Hamburgo, algumas coisas de shows e alguns detalhes de discussões sobre arranjo de musicas, das gravações dos filmes, mas tudo no maior bom humor.
Ele falou do John Lennon como uma pessoa muito especial e que tudo que eles viveram parecia ter sido um belo sonho, mas que ele não gostaria de repetir tudo aquilo.
Quando entrei na casa, havia pelo menos umas 20 guitarras Gretsch espalhadas pelo chão.... até então, só havia visto uma na casa do Marcus Rampazzo (guitarrista da banda Beatles 4 Ever). Quando entramos na casa, George Harrison não havia descido ainda e eu peguei uma das guitarras na mão. Isto aconteceu bem na hora que George chegou. Preparei-me para levar uma bronca, mas ele nem ligou, só perguntou se eu gostava de guitarras.
Depois de um tempo que estávamos juntos, eu toquei pra ele uma fita K7 com gravações de solos de guitarra slide que ele havia feito em diversas músicas, mas agora gravados pelo Marcus Rampazzo. Ele sentou-se em uma poltrona, pegou uma guitarra e ficou escutando e comentando.
No inicio, ele me perguntou se não era de nenhum disco pirata dele, e eu expliquei a ele sobre o Rampazzo e ele ouviu a fita com bastante atenção e no final fez um elogio ao Rampazzo que eu gravei. Na musica "Isn´t it a Pity" ele não lembrava o tom e quando eu disse que era em Sol, ele me perguntou se eu queria pegar a guitarra e tocar, mas bobeei e disse que não, não tive coragem de tocar na frente dele.
Ele havia tocado no "Princes Trust" recentemente e no vídeo que eu vi, ele usava uma guitarra Gibson Les Paul, semelhante a usada na gravação da música "While My Guitar Gently Weeps" usada pelo Eric Clapton que só tocou nessa música com os Beatles, em mais nenhuma outra e que, depois da gravação deu a guitarra para o George, e quando perguntei se era a mesma guitarra, ele me disse que ele havia usado uma Fender no show.... Não quis discutir com ele, lógico....he he he... pareceu que a memória recente dele não era muito boa.
Barbieri: Você tirou alguma foto junto com ele?
Mallagoli: Sim várias, antes de ir embora. Tirei algumas fotos dele e ele tirou uma foto minha segurando uma guitarra Gretsch dele. Foi a glória para mim.
Barbieri: Esta foi a única vez que você falou com ele?
Mallagoli: Não eu já havia conversado com ele em São Paulo quando ele veio para ver a corrida de Formula 1, mas dessa vez foi mais sossegado, pois não tinha gritaria, nem correria e estávamos só nos dois.
Barbieri: Fora a evidente emoção de estar do lado de uma lenda viva, qual foram as suas impressões deste encontro? Que memórias (boas e ruins) você guarda até hoje do George?
Mallagoli: Ele foi muito simpático e logo que me viu, falou: "Eu te conheço". Dai me apresentei e ele lembrou-se de mim. Eu queria gravar tudo que falávamos mas, ele me disse: "Você não precisa fazer isso pois nós somos amigos. Você gostaria que eu fosse te visitar e ficasse gravando e fotografando tudo que nós fizéssemos? Pois se sinta a vontade aqui, como um amigo meu. E foi o que aconteceu, ele me deixou à vontade para falar, rir, perguntar e quando eu perguntei: "E quando eu quiser falar com você de novo?" Ele me respondeu:" Vou te dar meus contatos, mas o mais fácil é você ligar para a Warner e eles te dizem onde estou, vou deixar seu nome na minha lista de amigos".
E dai ele me passou até o telefone da casa dele e outros, mas nunca tive coragem de ligar, só o fiz quando ele estava terminal com câncer, ha dez anos atrás, mas ninguém atendeu. Então, como ele havia me instruído, liguei pra Warner, e a pessoa que conversou comigo, foi super simpática e me passou um outro número e me pediu para ligar dali a uns 40 minutos. Quando liguei falei com Olivia, sua esposa, que, agradeceu minha ligação mas, disse que George não tinha condições de falar comigo, mas que ele lembrava de mim e que era para eu e os fãs dele rezarem muito por ele pois ele não iria muito longe. No dia seguinte tive a noticia da passagem dele.
Por incrível que pareça ate hoje os Beatles nunca me decepcionaram, todos foram muito atenciosos como pessoas, foram sempre muito simples e muito bacanas comigo. Não tenho de nenhum deles nenhuma memória ruim.